segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Um cerimonialista esperto, sua caneta e... uma farsa!

Aconteceu há mais de duas décadas atrás, quando eu fazia minha primeira incursão profissional no mundo dos eventos, trabalhando como especialista na equipe de cerimonial de uma renomada instituição governamental em Cuba, minha terra natal.

Durante uma concorrida cerimônia de assinatura de um importante ato internacional, em Havana, a autoridade estrangeira, após ser convidada pelo mestre de cerimônias para assinar o documento, dirigiu-se até a mesa montada especialmente para a ocasião, tomou a luxuosa caneta Parker na mão e... a caneta falhou.

Rapidamente, como por arte de magia, o Sr. Robledo, responsável pela nossa equipe de cerimonial, que acompanhava tudo bem de perto, puxou do bolso da sua camisa uma outra bela caneta e a entregou ao ilustre convidado, que a aceitou e, com ela, assinou o documento. Depois assinaram também as autoridades cubanas.

O incidente, como era de se esperar, deu o que falar durante vários dias. E não faltaram elogios para o Sr. Robledo. O velho cerimonialista conseguira evitar um constrangimento maior, e se tornara um exemplo do quão eficientes podem ser alguns profissionais. A caneta que falhou, até onde soube, foi aposentada pouco depois.

Aquele incidente marcou em parte o início da minha vida profissional. Eu também tinha uma caneta no bolso naquele dia, e a teria entregado logo ao Sr. Robledo, para que a repassasse ao convidado. Mas a minha não era uma caneta elegante, e também não fui suficientemente rápido para agir antes dele. Perdi uma excelente oportunidade profissional.

Aprendi a lição e carrego até hoje comigo uma caneta no mínimo "decente" em eventos em que possa ser preciso. Nunca tive a oportunidade de usá-la numa situação como essa, nem nas dezenas de assinaturas de atos que presenciei durante os três anos em que trabalhei no setor que cuida dos eventos no Ministério das Relações Exteriores do Brasil.

Talvez eu mesmo tenha me tirado a oportunidade de um momento tão especial como aquele que acabei de relatar. Desde aquele dia, em eventos sob a minha responsabilidade, testo e faço testar uma e outra vez a caneta que será utilizada para assinar qualquer documento. Tudo bem, não sou perfeito, mas isso não vai acontecer novamente na minha presença.

Não vou negar que uma vez ou outra cheguei a torcer para que alguma caneta falhasse na minha presença. Mas nunca tive nem teria a coragem de fazer o que anos depois o Sr. Robledo me contou que havia feito naquele dia: ele mesmo, antes de iniciar o evento, havia quebrado a ponta da caneta Parker. Uma "farsa", como ele mesmo disse, que lhe rendeu alguns "minutos de glória".

(Esta história é baseada em fatos reais, mas o "Sr. Robledo" é um nome fictício).

[ESPAÑOL >>>

6 comentários:

  1. Eu não teria coragem de fazer o mesmo, porém se acontecesse de verdade seria mesmo uma gloria. Mas é para refletir sobre sempre estar a frente em pequenos gestos também. Profissional dessa área é também um pouco milagreiro.

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    1. Acho que nem se trata de coragem, Jessica, mas sim de bom senso e ética em eventos. Você faz muito bem mesmo em nem pensar em fazer uma coisa dessas, e não se precisa disso quando se é um profissional sério. Mas, como você escreve, profissionais de eventos devem estar "ligados" o tempo todo, tentando antever possíveis imprevistos que possam acontecer e já pensando até nas melhores formas de solucioná-los. É uma dinâmica mental um tanto cansativa e meio maluca, mas traz sempre excelentes resultados. Valeu pelo comentário!

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  2. Sabe Pablo, infelizmente vira e mexe, trombo com gente que prefere atrapalhar a vida alheia do que ajudar a fazer um ótimo evento, só para poder passar a impressão: sem mim, teria sido um fiasco. Acho que a caneta foi o menor dos problemas. Muito pior quando você encontra gente que compromete todo um trabalho por conta de insegurança "se ele/a for melhor que eu, estarei na rua. Então, preciso muito atrapalhar."
    É muito triste. E decepcionante.

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    1. O relato da "caneta" foi um fato real, mas não deixa de ser meio emblemático. Histórias como essas, infelizmente, se repetem no dia-a-dia da nossa profissão, envolvendo outros fatores muito mais graves do que uma simples caneta que não escreve. Sei bem do que você está falando, Laura, tenho sofrido também na minha própria pele com gente do tipo "o que seria desse evento se eu não estivesse aqui". Aff! Nem me lembra! rsrs

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  3. Muito danado o velho poderia ter ficado esperto mesmo e esperado até um dia acontecer de verdade e não ficar fingindo que ele salvou o evento. Muito bom o seu site vou divulgar entre as pessoas que conheço.

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    1. Obrigado, Adriana, agradeço pela divulgação! O nosso amigo do relato me contou tempo depois que ele havia até comprado uma caneta pensando que um dia apareceria a oportunidade de usá-la dessa forma, mas que como havia passado muito tempo e isso não acontecia, e como ele já estava prestes a se aposentar, pois então resolveu "criar a oportunidade", e foi isso o que fez. Para ele até que deu relativamente certo, mas nunca, nunca façam uma coisa semelhante! Ética também deve fazer parte da produção de eventos.

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